segunda-feira, agosto 15, 2011

frescura televisiva;

Que me desculpem os mais sociáveis, mas haja saco para tanta hipocrisia. As pessoas adoram mostrar toda a sua compaixão diante de casos de sofrimento ‘modelo’, e esquecem que vivem uma realidade pior ou igualmente ruim – mas é muito mais bonito, pelo menos socialmente, demonstrar a sua preocupação com o próximo. Próximo distante, é importante dizer.

Domingo, e por longas horas, fizeram uma enorme reportagem a respeito de um artista famoso que hoje figura na miséria. Pelo resumo, que fui obrigada a aturar diversas vezes, porque mesmo sem nem ao menos passar pelo canal que transmitia, mas parece que a minha mãe não entende bem o que significa o ‘não me interessa’. Enfim, a história era triste – filho deficiente, problemas de saúde e tudo mais que seja digno de um drama televisivo.

Não quero aqui parecer uma desalmada que não se comove com a dar alheia, mas acho absurdas as proporções que são destinadas as figuras televisivas. Quantas vezes viram alvo de reportagens nesse estilo, ex-jogadores que gastam toda a sua fortuna com mulher e negócios destinado ao fracasso, ou mesmo algumas pessoas que acreditavam que sua fama seria eterna e nada deram valor aos ganhos de quando estavam no auge? Uma formula jornalística estúpida que sempre dá certo, afinal se não há púbico, não interesse em se transmitir tal coisa.

A minha revolta é quando penso em quantas pessoas REALMENTE merecem alguma compaixão. Há algumas semanas o programa A Liga mostrou o drama de quem passar por uma desapropriação. É claro que sempre existe aquela pessoa que faz o imenso favor de morar um local de risco, e não entende que é para o próprio bem que precisa sair daquele lugar – e mesmo essas, quantas delas tem escolha? A questão é que são momentos que realmente partem o coração – e quem me conhece sabe que ficar emocionada por dramas humanos não é realmente algo recorrente comigo -, mas você vê pessoas que lutam por toda a sua vida para conseguir construir uma casa mínima, ter alguns móveis, e, de repente, perde tudo. Para alguns resta a resposta do ‘o Estado vai ressarcir’, mas quando? E a questão não é puramente financeira, mas sentimental, é a dedicação que se coloca naquele lar e, seja por qual motivo, assiste-se o seu sumiço.

Então, simplesmente, é no mínimo nojento ver a comoção causada quando um artista está sofrendo. Qualquer pessoa é digna de nossa compaixão, respeito e mesmo assistência, mas não entendo como alguém que teve suas chances – não importa se foi 15 segundos de fama ou anos de carreira – contra aquela pessoa que lutou a vida inteira para ser honesta – afinal, o nome é a única coisa que lhe cabe. Sinceramente, poupem meu tempo quando forem chorar as pitangas porque você, que teve suas chances, não conseguiu o que queria – ali no baixo ao lado tem alguém chorando por não saber por quanto tempo terá um teto sobre sua cabeça.



Quem tiver interesse e não tenha visto o programa, podem ver por aqui todas as partes do programa. Cada um sabe o tamanho dos próprios problemas, o quanto custa viver dia após outro, mas isso não lhe dá o direito de ignorar o sofrimento alheio, do próximo - e próximo não quer dizer quem você goste, mas um ser humano como você.

 
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