sexta-feira, agosto 05, 2011

Famílias Modernas;

Quase uma semana, certa retração da mídia, mas ainda assim o mesmo assunto nos jornais mais sensacionalistas: o possível suicídio da namorada de um jogador da segunda divisão do futebol brasileiro. O que não foi explorado pela mídia televisiva, exaustivamente foi exposto pelo mundo virtual. A história não é exatamente novidade: um casal jovem e desproporcional, um rapaz em início de carreira, uma menor de idade e uma fatalidade – cada vez mais típico.

É amplamente discutido se o rapaz poderia ou não ter empurrado a garota pela janela, se as imagens em que ele mostra desespero eram verdadeiras ou se mesmo se a tal menina teria coragem ou não de atentar contra a própria vida. Também foi levantado o fato de um atleta ter problemas com o álcool, o relacionamento saudável ou não vivido por eles e até mesmo o tamanho da possessividade revelada pela vítima, por seu – quem sabe – algoz. Discussões tão recorrentes quanto o caso, que todas as semanas estampam jornais e já caíram na banalização popular – a não ser que tenha requintes de crueldade, já não são mais atraentes. 

O que nunca parece ser considerado é a atitude da família – não posterior ao acidente, mas antes. Por que nunca se questiona o quanto as famílias renunciam ao seu poder e dever como pais? Qual é a razão de, nesses momentos, nunca existirem críticas a respeito do posicionamento tomado por eles? É óbvio que se deve respeitar o pesar que passam durante esse momento, mas a super exploração da informação não é a título de exemplo para outros casos? Não é exatamente esse o argumento usado por diversos repórteres quando exageram na sinceridade em suas perguntas e opiniões?

Partindo deste caso, é fácil notar o quão anunciado era a tragédia. Segundo a família de Flávia de Lima, 16, a garota mantinha um relacionamento há mais de 2 anos com o jogador Rafael Silva, 20, e que moravam juntos já há um ano. Atualmente a diferença de idade não parece mais ser algo a ser considerado. Famílias que tem seu início precocemente, com meninas que saem de casa antes mesmo de entenderem a sua nova condição de mulher, adquirida dia a dia. Com 14 anos é a saída da infância, tomando por base o Direito Penal, mas aparentemente essa constatação não parece ser observada pelas famílias brasileiras. Uma garota, uma criança, que mantinha um relacionamento com um homem de 18 anos. Que um ano depois, já deixava seu lar, a proteção familiar e investia na constituição família – mal tendo terminada a educação escolar básica.

Em algumas reportagens a mãe da garota afirmou que a filha era decidida, totalmente determinada no que desejava. O que, no mundo de tantas outras pessoas, seria chamado de birra infantil. Entretanto, o que antes parecia ser tratado com proibições, castigos, hoje é deixado a própria sorte. Até uma década atrás, um pai não permitira que sua filha tivesse qualquer relacionamento com esta idade, quem dirá com um rapaz já maior de idade. Mas aqueles tempos são chamados de arcaicos, ‘pais quadrados’, distantes da modernidade vivida hoje. Modernidade? Será mesmo que o afastamento do controle que os pais exerciam sobre os filhos, é um caminho desejável? É claro que dominação nunca é aceitável, o cerceamento de expressão é obviamente deplorável, mas isso nada tem a ver com as imposições normais que se espera de um ambiente familiar.

A história, infelizmente, não é novidade. O que antigamente era feito pelo casamento – meninas tão novas que eram entregues para o matrimônio, muito antes de terem idade o suficiente para entenderem o próprio corpo -, foi superado pela liberdade dada aos filhos de escolherem o próprio destino, ainda que houvesse regras e limites a serem seguidos. Hoje, aparentemente, parece um lar ser lei. Os filhos em sua independência precoce e desmedida se entregam pra uma vida adulta muito antes de terem capacidade de entender exatamente o que é que tanto desejam; por outro lado, os pais, abrem mão de qualquer limite com a estúpida desculpa de que possuem filhos geniosos, que são liberais e só querem a felicidade dos mesmos. Já dizia a velha frase que liberdade não é o mesmo que libertinagem, mas esse parece ter sido mais um dos provérbios aposentados e considerados não dignos da modernidade. Infelizmente, esse caso lastimável de acidente, ou mesmo homicídio, figurará no banal, com sua recorrência insistente, sempre amparada pela busca da justiça para o ato final, ignorando o estopim do problema real.

 
Powered by Blogger