terça-feira, outubro 13, 2009

- perfeccionismo;

O relógio despertou, exatamente,
às 05:20 da manhã.

Seria o horário normal de ir para a faculdade, mas hoje não tinha aula. Acabei ficando sem conseguir voltar a dormir, e resolvi caminhar pelo condominio. Um frio congelante, totalmente impróprio para a roupa que vestia, mas ao mesmo tempo era como uma chave que abria as portar para tudo aquilo que eu evitava. Caminhei por toda a extensão, as ruas vazias, mas acabei voltando para a entrada do bloco. Apenas eu e a Cami, a gata mais carente que encontrei em toda a vida.

Foi estranho, realmente estranho. Acho que poderia jurar que ela me olhava de uma forma diferente, ou talvez eu é que passei a olhar as coisas de uma forma diferente. Nem sei quanto tempo passei ali, sentada, apenas esperando o Sol nascer e se postar de forma dominante no céu. Queria poder dizer que foi lindo, mas eu me sentia tão mal que não teve qualquer beleza.

Pensei em cada dia que vivi nos últimos tempos: nas alegrias e nas tristezas. Revi as fisionomias de cada um com quem tive algum contato, tentei lembrar se estavam felizes ou infelizes - e daqueles aos quais eu havia apenas conversado, apenas imaginei como seria as mesmas expressões. Um balanço de fim de ano, antes que chegássemos ao término do décimo segundo.

Há de se estranhar o porquê fiquei triste, já que pareço mostrar felicidade para todos os lados. De fato, talvez eu esteja mais feliz do que estive nos últimos meses, mas me dei conta que estou pagando um preço muito alto para ter isso. Vejo-me roubando o direito de escolha alheio, apenas para ter o que eu quero. Sofri tanto, sendo o que os outros queriam, que agora percebi que o papel se inverteu: sou eu que exijo dos outros atitudes que estejam de acordo com o meu padrão, como se todos fossem apenas bonecos da minha boa vontade.

Parece fácil, então, que após entender isso seria fácil mudar. Mas não é. Senti aquelas lágrimas tão carregadas de dor, em uma tentativa de eliminar um pouco do peso da minha consciência, só que pela primeira vez isso nem passou perto de aliviar todo o peso qque eu estava carregando. Percebi que só existia uma forma de tirar tudo aquilo de mim mesma, e seria modificando o jeito de levar as coisas. Mas ai jazia a dificuldade. Nunca tive problemas em admitir que estava errada, e nem muito menos para fazer o que era necessário para mudar. Entretanto, quando isso envolve outras pessoas, é tudo tão mais complicado!

Tentei agir corretamente, mas porque isso não está me trazendo a paz que deveria? Quer dizer, cadê aquele alivio que as pessoas sentem quando percebem que fizeram a coisa certa? Não, eu sinto justamente o contrário, apenas sinto-me ainda mais culpada pelos meus próprios erros e fraquezas - porque sou obrigada a ver que quanto mais tento romper minha ligação com algumas pessoas, mais atreada estou as mesmas. Sinto-me brincando com sentimentos puros, apenas porque não sei lidar com todos eles. Ao mesmo tempo um medo intenso de perder tudo aquilo que, a príncipio, eu nem mesmo queria!

O meu perfeccionismo apareceu ainda mais forte, mais irritante. Pensar que eu não sei ser a namorada perfeita, e que nunca vou cnseguir. Ter que enfrentar a realidade e notar que nunca vou chegar perto de ser a amiga que eu tanto queria ser. E o pior não é pensar que não vou chegar nesses níveis, e sim ter que ver que eu exijo justamente isso das pessoas. Não que eu queira a perfeição, não dos outros, mas de alguma forma sinto que a minha felicidade está ligada a determinados perfis de pessoas. O namorado romantico/ciumento ou a amiga dedicada e alegre, as figuras que eu preciso ter na minha vida, que eu exijo ter na minha vida, mas não me vejo fazer 'por onde' merecer companhias assim. Egoísta, exigente e estressada, como alguém assim poderia ter pessoas assim?

E ai eu olho pra dentro e vejo que não vou mudar. Ao contrário do que as pessoas dizem, nem sempre se tem condições de superar seus defeitos e ser uma nova pessoa. Eu sou assim, a vida me transformou nisso, e só ela pode me mudar novamente. Aí eu sinto novamente as lágrimas tentarem esvaziar um peso que eu já não aguento mais, o peso de ser obrigada a me isolar. Eu não posso exigir das pessoas, e também não posso ser o que elas merecem. O que me restaria se não fosse viver sozinha, no mundo escuro que eu criei, apenas para proteger aquelas pessoas que eu tanto amo, de serem subjugadas á coisas que não merecem? Pergunta retórica, sem resposta.

 
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