Mais uma vez ela olhava para o
céu, distraída em pensamentos, ainda que não estivesse pensando em nada. Não
era uma contemplação, se alguém perguntasse se existia alguma estrela no céu
aquela noite, não saberia dizer. Observava o vazio, em silêncio, sem medo de
ser questionada pelo que fazia – e se fosse, diria apenas que estava admirando
as estrelas.
Talvez não existisse céu, e o que
ela olhava era apenas o seu reflexo. Vazio. Poderiam existir nuvens que
caminhassem docemente pela sua vastidão, estrelas que prediziam um dia de Sol
ou até mesmo silenciosos relâmpagos, quebrando a calmaria noturna. Entretanto só
conseguia se concentrar na parte escura que o dominava. Será que isso era ver o
copo meio vazio? Incomodada em se sentir pessimista, fez todo o esforço
possível para enxergar além do que estava vendo. Não, era apenas um céu
solitário, assim como ela.
Não, no fundo sabia que estava
errada. A noite não era solitária, só porque faltava tudo aquilo que lhe era
tão característico. Na verdade era uma pena que apenas noites estreladas, ou
tempestuosas, fossem consideradas bela. No final das contas, nunca seria uma
noite solitária, apenas saudosa. Não há motivos pra se sentir sozinha, afinal,
amanhã lá estarão as estrelas, as nuvens, os raios...
E é justamente por isso que ela
olha tanto o que está acima, mas não consegue fazer caminhar seu pensamento. Seria
essa a sua diferença para com o céu, ou a sua semelhança? A saudade das
estrelas que irão aparecer no dia seguinte, ou a ausência de expectativa da
companhia?