terça-feira, setembro 28, 2010

- sea &moon ;

Era apenas a Lua, e o Mar. Ambos nunca se viram como algo importante, embora muitas vezes houvessem escutados seus nomes – mas, tinham alguma consciência, que apenas eram usados para momentos específicos, ficando esquecidos logo depois –, contudo não se importavam com a sua aparente solidão. Aproveitavam a sua existência, algumas vezes se rendendo a tristeza absoluta que acompanhada a solidão, mas sempre representando muito bem o seu papel de imparcialidade, muitas vezes como uma frieza – e talvez justamente por isso não eram lembrados com tanta freqüência.

Nada mais tinham em comum, nem mesmo estavam próximos um do outro. A Lua espelhava alguma doçura, atraía a atenção dos amantes graças a sua beleza e graciosidade; o Mar, por sua vez, dotado de sua inconstância, atraía uma atenção maior pela sua vastidão e, muitas vezes, violência. De fato, não parecia existir qualquer vinculo entre eles, a não ser aquele fato insistente de representação – aos não observadores eles pareciam frios e distantes, mas para os que se davam o direito de conhecer melhor, conseguiam perceber o quão profundo era aquela solidão.

Não se sabe, ao certo, como tudo começou. Foi a Lua que viu o Mar, e jogou sua luz sobre ele, ou foi o Mar que não resistiu a atração irresistível do satélite? O momento, ou o como, pouco importava, o fato é que o ar de solidão foi abalado e substituído pela necessidade de presença. Um dia, certo dia, o Mar notou o reflexo da Lua em si mesmo; embora não tivessem nada em comum, o Mar conseguia se encontrar naquela Luz tão fascinante, adorável, cálida e suprema. A vastidão de sua água necessitava daquele brilho para ser completo, mesmo que não conseguisse definir o exato motivo para essa descoberta. Por que ele, tão grandioso e soberano, precisaria da presença de um ser que aparentava fragilidade? Não tinha sentido, e por isso, a todo custo, tentou se afastar e fugir daquela atração.

A doçura era magnética, impossível fugir daquela luz que cegava a todos que a olhavam com atenção. Como não se apaixonar por algo tão puro? O Mar fugia, revoltava suas águas, mas no seu EU mais profundo, sabia que aquela era uma batalha perdida. Sentia, todas as noites, o reflexo da Lua sobre si, uma imagem que pareceu sempre existir, mas que ele nunca conseguiu compreender. Por que a Lua, e não o Sol? Por que aquele desejo por um encontro que ninguém mais via, já que todos dormiam quando ela aparecia? O Sol, tão desejado, com seu calor confortante, que todos os dias aqueciam cada uma de suas partes, nunca despertou algo próximo do fascínio que a Lua o provocava. O que afinal ela tinha, de tão interessante? O que nela havia com o poder de curar a sua solidão originaria?

Nunca soube dizer, e de alguma forma, nunca se preocupou realmente em responder. O que importava os motivos? A única coisa que queria é que a Lua sempre estivesse ali – pura e doce –, pois ele sempre a esperaria chegar, eternamente. Talvez, se realmente refletisse, iria descobrir que não era o que a Lua tinha de especial, mas como ela o tornava especial. Esse poderia ser um pensamento egoísta, mas os seus efeitos eram os mais altruístas possíveis. O Sol, com toda a sua luz e calor, não deixavam o Mar ser como realmente era – modificava a sua estrutura, sua forma natural, não respeitando a sua essencial. Não era assim com a Lua. Por mais distante que estivesse, mesmo que suas mudanças de aspecto também influenciassem naquela relação, a Lua sempre permitiu que o Mar fosse Mar – ele era inconstante, em seus momentos de fúria e calmaria (muitas vezes influenciado pela mudança de fase da Lua), mas mesmo assim a Lua sempre voltava e refletia sua beleza sobre ele. Uma paixão, um desejo e necessidade daquelas pouquíssimas horas de contato – mesmo que a distancia.

Ainda eram apenas o Mar e a Lua, mas nada tinham a ver com o seu principio. Não eram apenas dois seres distantes, desconexos e assimétricos; não, agora se sentiam perto um do outro, interligados de uma forma transcendental. Não havia qualquer explicação para aquela necessidade que existia da Lua para com o Mar, e vise e versa; entretanto, não existia ninguém que não citasse aquela cena: nada mais romântico do que observar a Lua refletir na calmaria do Mar - sim, visto que a liberdade que a Lua concedeu ao Mar, de ser ele mesmo, acabou provocando uma mudança natural. Os dois amantes, que nada tinham de semelhantes, agora não poderiam ser visto separadamente – pensa em um, era buscar o outro. Aquele vínculo sem explicação, com tudo para dar errado, mas desejado fortemente. A atração, fisicamente constatada, que por nada conseguiria ser quebrada. Enquanto um existisse, o outro persistiria.

Um relato que não explica o amor do Mar, pela Lua, mas que amor pode ser explicado? Que paixão revela alguma razão? Que romance verdadeiro carrega em si o aspecto de possível? Só mais um romance, talvez o mais forte de todos, persiste a distancia, as diferenças e ainda assim promove o respeito das diferenças, carregando em seu âmago apenas o desejo de ver o outro completo – e para o deleite de cada um, o Mar completa a Lua, tão bem quanto a Lua completa o Mar.

 
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